Yang Zhu e a Liberdade Individual
Por Katrina Gulliver1

Lições de um filósofo chinês antigo.
Yang Zhu (440–360 a.C.) foi um filósofo chinês cujas ideias eram consideradas ousadas e rebeldes para sua época, mas que podem nos parecer modernas em seu foco na liberdade individual. Suas lições foram compartilhadas através de textos antigos e referenciadas por estudiosos nos séculos seguintes.
Ele viveu durante o período dos “Estados Combatentes”, fase de confrontos entre potências regionais no que mais tarde seria unificado como China. Foi uma época não apenas de conflitos militares, mas também de batalhas intelectuais. O taoísmo estava emergindo como a força religiosa dominante na China (o budismo só chegaria dois séculos depois), e a filosofia de Yang Zhu reflete uma visão de mundo taoísta. O Zhuangzi, um texto taoísta escrito entre os séculos IV e III a.C., descreve a proliferação de ideias naquela época:
O império está em total confusão, a sabedoria e a excelência não estão claras, não temos o Caminho e o Poder unificados... Há uma analogia nos ouvidos, olhos, nariz e boca; todos têm algo que elucidam, mas não podem trocar suas funções, assim como as várias especialidades das Cem Escolas têm seus pontos fortes e, às vezes, se mostram úteis. No entanto, elas não são inclusivas, não são abrangentes; são como homens, cada um com seu próprio cantinho.
Foi em meio a esse turbilhão de ideias que a filosofia de Yang Zhu tomou forma. Para contextualizar sua vida na filosofia chinesa: ele nasceu cerca de 40 anos após a morte de Confúcio, o filósofo chinês mais famoso. Mêncio nasceu durante a última década de Yang Zhu. Seria Mêncio quem mais tarde comentaria sobre seu trabalho e declararia sua importância, chamando a influência de Yang e da escola rival de Mo Zi (Mohismo) de “inundações de animais selvagens que devastaram a terra”.
De acordo com o sinólogo Liu Wu-Chi, “ele representou uma nova tendência filosófica em direção ao naturalismo como o melhor meio de preservar a vida em um mundo decadente e turbulento”.
Yang Zhu foi um dos primeiros defensores do “egoísmo ético”, ou o valor de agir de acordo com o próprio interesse. Ele defendia que era errado prejudicar os outros, mas sacrificar-se por si mesmo não era uma virtude. Isso ia contra as outras grandes filosofias da época — o mohismo, que defendia o altruísmo geral, e o confucionismo, que enfatizava uma ordem social hierárquica, ordenada pelo céu. Sua obra foi significativa para a compreensão do xing: a natureza inata ou o caráter essencial de cada um.
De acordo com a historiadora Erica Brindley:
Yang Zhu, assim como Mêncio, parece ter visto o eu e o corpo humano como um recurso importante para formas universais e objetivas de autoridade por meio do xing. Vemos isso na seguinte citação de Mêncio, que afirma: “Mesmo que ele beneficiasse o mundo arrancando um único fio de cabelo, ele não o faria”.
Esses eram pensamentos revolucionários na época. Yang Zhu desafiava as ideias de dever e também de ordem prescrita, em seu argumento a favor de fazer as próprias escolhas.
Yang via os seres humanos como indivíduos egoístas e acreditava que essa era a maneira correta de viver. Isso, juntamente com a ideia em desenvolvimento no taoísmo do egoísmo de Yang Zhu, foi visto como uma antecipação da busca taoísta pela imortalidade individual — embora Zhu argumentasse que devemos aceitar o tempo que nos foi concedido na Terra e não procurar encurtá-lo nem prolongá-lo.
Não devemos negar a nós mesmos o prazer ou nos entregar a excessos. Não prejudique ninguém. Cuide da sua vida e esteja em paz com o mundo.
Leitura adicional
Erica Brindley, “Individualism in Classical Chinese Thought,” Internet Encyclopedia of Philosophy.
A.C. Graham, Chuang-Tzu (Hackett, 2001).
Karyn Lai, An Introduction to Chinese Philosophy (Cambridge University Press, 2017).
Liu Wu-Chi, “Yang Zhu,” Encyclopedia of Philosophy, Vol. 8 (New York: Macmillan, 1967).
Fonte da tradução em Foundation for Economic Education, 22 de outubro de 2025.
Tradução: Larissa Souza.
Katrina Gulliver é diretora editorial da FEE. Ela possui doutorado pela Universidade de Cambridge e já ocupou cargos docentes em universidades na Alemanha, Grã-Bretanha e Austrália. Ela já escreveu para o Wall Street Journal, Reason, The American Conservative, National Review e New Criterion, entre outros.


