Violência doméstica: o que dizem os estudos?
Muitos estudos mostraram que as esposas usam de violência contra seus maridos ao menos tanto quanto os maridos usam de violência contra suas esposas.[ref]Para uma lista extensa de estudos veja Martin S. Fiebert, “References examining assaults by women on their spouses or male partners: an annotated bibliography,” disponível em http://www.csulb.edu/~mfiebert/assault.htm. Eis alguns exemplos: Murray Straus, “Victims and aggressors in marital violence,” American Behavioral Scientist, 23(5), May/ June 1980, pp. 681–704; Murray A. Straus and Richard J. Gelles, “Societal change and change in family violence from 1975 to 1985 as revealed by two national surveys,” Journal of Marriage and the Family, 48, August 1986, pp. 465–479. Para descobertas similares no Canadá veja Merlin B. Brinkeroff and Eugen Lupri, “Interspousal violence,” Canadian Journal of Sociology, 13(4), 1988, pp. 407–430.[/ref] Dado que tais descobertas são inesperadas para muitas pessoas, ao menos um conhecido pesquisador (que compartilhava dos preconceitos prevalentes sobre o assunto antes de fazer sua pesquisa quantitativa) examinou os dados de várias formas para determinar se poderiam ser conciliados às opiniões comuns.[ref]Isso, evidentemente, aumenta a confiabilidade das descobertas. Claramente não resultam de noções preconcebidas ou de viés ideológico.[/ref]
Em quase todos os escores, as mulheres são tão violentas quanto os homens. Descobriu-se que metade da violência é mútua, e que na outra metade havia um número igual de mulheres e homens agressores.[ref]Murray Straus, “Victims and aggressors in marital violence,” p. 683.[/ref] Quando foi feita uma distinção entre a "violência normal" (empurrões, tapas e atirar objetos) e a "violência severa" (chutes, mordidas, socos, pancadas com objetos, "espancamento" e atacar o cônjuge com uma faca ou arma de fogo), a taxa de violência mútua caiu para um terço, a taxa de violência cometida apenas pelo marido se manteve a mesma, mas a taxa de violência cometida apenas pela esposa aumentou.[ref]Murray Straus, “Victims and aggressors in marital violence,” p. 684.[/ref] Mostrou-se que as esposas iniciam a violência na mesma frequência que os maridos.[ref]Jan E. Stets & Murray A. Straus, “The marriage license as a hitting license: a comparison of assaults in dating, cohabiting, and married couples,” Journal of Family Violence, 4(2), 1989, p. 163.; Jean Malone, Andrea Tyree & K. Daniel O’Leary (“Generalization and containment: different effects of past aggression for wives and husbands,” Journal of Marriage and the Family, 51, 1989, p. 690) descobriram que as mulheres são mais propensas a atirar objetos, estapear, chutar, morder, socar e bater com um objeto. Para uma pesquisa de outras descobertas desse efeito, ver Donald Dutton & Tonia Nicholls, “The gender paradigm in domestic violence research and theory. Part 1: the conflict of theory and data,” Aggression and Violent Behavior, 10, 2005, pp. 680–714 (especialmente pp. 687–689).[/ref]
Ao menos alguns estudos sugeriram que há uma taxa maior de esposas agredindo maridos do que de maridos agredindo esposas,[ref]K. Daniel O’Leary, Julian Barling, Ileana Arias et al., “Prevalence and stability of physical aggression between spouses: a longitudinal analysis,” Journal of Consulting and Clinical Psychology, 57(2), 1989, pp. 264–266.[/ref] e a maioria dos estudos sobre a violência em encontros mostram taxas mais altas de violência infligida por mulheres.[ref]David B. Sugarman and Gerald T. Hotaling, “Dating violence: a review of contextual and risk factors,” in Barrie Levy (ed.), Dating Violence: Young Women in Danger, Seattle: Seal Press, 1991, p. 104.[/ref] Não é o caso, como alguns sugeriram, que a violência feminina contra parceiros íntimos é geralmente em defesa própria.
As descobertas da pesquisa sobre os efeitos da violência conjugal são mistas. Alguns estudos descobriram que os maridos infligem mais danos às esposas que elas infligem neles.[ref]Veja, por exemplo, Jan E. Stets & Murray A. Straus, “Gender differences in reporting marital violence and its medical and psychological consequences,” in Murray A. Straus and Richard J. Gelles (eds), Physical Violence in American Families, New Brunswick, NJ: Transaction Publishers, 1990, pp. 151–165; Michele Cascardi, Jennifer Langhinrischen and Dina Vivian, “Marital aggression: impact, injury, and health correlates for husbands and wives,” Archives of Internal Medicine, 152, 1992, pp. 1178–1184; Daniel J. Whitaker, Tadesse Halleyesus, Monica Swahn and Linda S. Saltzman, “Differences in frequency of violence and reported injury between relationships with reciprocal and nonreciprocal intimate partner violence,” American Journal of Public Health, 97(5), 2007, pp. 941–947.[/ref] Sugeriu-se que é assim porque os maridos são geralmente maiores e mais fortes que as suas esposas.[ref]Murray Straus, “Victims and aggressors in marital violence,” p. 681; Murray A. Straus & Richard J. Gelles, “Societal change and change in family violence,” p. 468; K. Daniel O’Leary Julian Barling, Ileana Arias et al., “Prevalence and stability of physical aggression,” p. 267.[/ref] No entanto, outros estudos descobriram que as esposas infligem mais danos nos maridos.[ref]Veja, por exemplo, Maureen McLeod, “Women against men: an examination of domestic violence based on an analysis of official data and national victimization data,” Justice Quarterly, 1, 1984, pp. 171–193; Donald Vasquez & Robert E. Falcone, “Cross-gender violence,” Annals of Emergency Medicine, 29(3), 1997, pp. 427–428.[/ref] Se armas foram usadas, o menor tamanho das mulheres não faria diferença em sua capacidade de machucar. Mas outros estudos não acharam diferença na severidade dos ferimentos causados por parceiros homens ou mulheres.[ref]Veja, por exemplo, K. Daniel O’Leary, Amy M. Smith Slep, Sarah Avery-Leaf & Michele Cascardi, “Gender differences in dating aggression among multiethnic high school students,” Journal of Adolescent Health, 42, 2008, pp. 473–479; David M. Fergusson, L. John Horwood & Elizabeth M. Ridder, “Partner violence and mental health outcomes in a New Zealand birth cohort,” Journal of Marriage and the Family, 67, 2005, pp. 1103–1119.[/ref]
Texto extraído de The second sexism: discrimination against men and boys, por David Benatar (John Wiley & Sons, 2012).
Tradução: Eli Vieira