Eli, embora a África seja multicultural e o continente de maior diversidade genética, há uma certa padronização cultural na África Subsaariana devido à "recente" expansão Bantu, onde povos negros do Oeste da África varreram o continente ocupando quase todos os espaços e deixando os outros grandes grupos étnicos (Khoi-San e Pigmeus) restritos a pequenos bolsões populacionais. Mas os identitários não curtem muito falar sobre a expansão Bantu pq não deixa de ser uma expansão colonialista.
Será interessante trazer esse assunto em pauta novamente, com seu adendo. E faz todo sentido identitários evitarem falar sobre expansões colonialistas de povos não-brancos. Parte da mentalidade anti-colonialista que observo ser defendida envolve tratar povos não-europeus, em especial povos primitivos, como sociedades pacíficas e igualitárias que viviam em harmonia com a natureza e outras tantas, e que apenas quando o homem branco malvado capitalista meteu o dedo nelas que suas mentes imaculadas foram contaminadas pela violência, a guerra, o egoísmo, etc.
O que aprendi com os 2 primeiros livros do Jared Diamond "Guns, Germs and Steel" e "The Rise and Fall of the Third Chimpanzee" é que padronização linguística em vastas áreas geográficas costuma ser resultado de um grande movimento colonizador relativamente recente. Entre os movimentos que ele descreve nos seus livros estão a Expansão Bantu na África subsaariana, a Expansão Chinesa na China, a Expansão Indo-Europeia na Eurásia e a Expansão Austronesia no Índico e no Pacífico. Depois que descobri a predominãncia das línguas Tupi-Guarani ai Sul do Amazonas, imaginei que algo semelhante deve ter ocorrido por aqui também após a adoção da agricultura baseada na mandioca.
Muito bom programa, já virei fã. Problema é que eu queria dar meus pitacos toda hora:
Sobre a questão do "lugar de fala": o "mito fundador" da ideologia identitária, que vem direto do pós-modernismo, é que TUDO, absolutamente TUDO, é relação de poder. Qualquer assunto humano deve ser visto obrigatoriamente pela ótica da opressão e, logo, desconstrução da opressão (ou colonização, ou o que seja). Então, na ótica deles, o "Lugar de fala" tem mais a ver com "agora é sua vez de ficar calado, e minha vez de falar", não tem a ver com o conteúdo do discurso, conhecimento prático/em primeira mão, nada disso. Mesmo que você não fale nada que seja "conhecimento" - pode ser um desabafo, um xingamento, uma desforra, qualquer coisa - é sua prerrogativa falar com exclusividade, e do "opressor" não falar mais porque ele já falou.
Mas isso tem de ser entendido levando uma OUTRA coisa em consideração, que eu vou tocar no MEU podcast, porque eu sou copião mesmo:
As pessoas que sustentam isso nem sabem muito bem disso. Como todos os filhos do pós-modernismo, sustentam a "abridged version" disponível de modo meio mecânico e indo na onda dos outros. Não possuem o estofo intelectual, as leituras e sequer a disciplina de ter ido buscar isso no Foucault, Derida, Lacan, etc. Esse pessoal não tem estofo para ler nem orelha de "O Que é o Estruturalismo". Mal e mal lêem tweet da Anita. Vários nem saíram das cadeiras introdutórias da faculdade. Então é como uma sombra distante, uma farsa, uma mimetização, do discurso estruturalista.
Obrigada Douglas, você trouxe pontuações fantásticas! Consigo perceber toda essa dinâmica também. É uma das principais vantagens do discurso "progressista", tal como de qualquer populismo: pega a pessoa pelo coração, não pela cabeça. Distorcem os significados de "justiça" e "igualdade", e quem não prestar atenção adere à narrativa como se fosse algo óbvio a se defender - pois, afinal, que seria contra a justiça e a igualdade?
Daqui algumas semanas planejamos fazer um episódio lendo e comentando os feedbacks dos ouvintes, e trarei o seu com certeza. ;)
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Eli, embora a África seja multicultural e o continente de maior diversidade genética, há uma certa padronização cultural na África Subsaariana devido à "recente" expansão Bantu, onde povos negros do Oeste da África varreram o continente ocupando quase todos os espaços e deixando os outros grandes grupos étnicos (Khoi-San e Pigmeus) restritos a pequenos bolsões populacionais. Mas os identitários não curtem muito falar sobre a expansão Bantu pq não deixa de ser uma expansão colonialista.
Obrigado pelas informações, Américo. Eu não sabia da expansão bantu.
Vc pode achar infos na Wikipedia https://en.wikipedia.org/wiki/Bantu_expansion. Mas aprendi sobre a expansão Bantu no livro Armas, Germes e Aço do Jared Diamond.
Obrigada pela contribuição, Américo! ;D
Será interessante trazer esse assunto em pauta novamente, com seu adendo. E faz todo sentido identitários evitarem falar sobre expansões colonialistas de povos não-brancos. Parte da mentalidade anti-colonialista que observo ser defendida envolve tratar povos não-europeus, em especial povos primitivos, como sociedades pacíficas e igualitárias que viviam em harmonia com a natureza e outras tantas, e que apenas quando o homem branco malvado capitalista meteu o dedo nelas que suas mentes imaculadas foram contaminadas pela violência, a guerra, o egoísmo, etc.
O que aprendi com os 2 primeiros livros do Jared Diamond "Guns, Germs and Steel" e "The Rise and Fall of the Third Chimpanzee" é que padronização linguística em vastas áreas geográficas costuma ser resultado de um grande movimento colonizador relativamente recente. Entre os movimentos que ele descreve nos seus livros estão a Expansão Bantu na África subsaariana, a Expansão Chinesa na China, a Expansão Indo-Europeia na Eurásia e a Expansão Austronesia no Índico e no Pacífico. Depois que descobri a predominãncia das línguas Tupi-Guarani ai Sul do Amazonas, imaginei que algo semelhante deve ter ocorrido por aqui também após a adoção da agricultura baseada na mandioca.
Muito bom programa, já virei fã. Problema é que eu queria dar meus pitacos toda hora:
Sobre a questão do "lugar de fala": o "mito fundador" da ideologia identitária, que vem direto do pós-modernismo, é que TUDO, absolutamente TUDO, é relação de poder. Qualquer assunto humano deve ser visto obrigatoriamente pela ótica da opressão e, logo, desconstrução da opressão (ou colonização, ou o que seja). Então, na ótica deles, o "Lugar de fala" tem mais a ver com "agora é sua vez de ficar calado, e minha vez de falar", não tem a ver com o conteúdo do discurso, conhecimento prático/em primeira mão, nada disso. Mesmo que você não fale nada que seja "conhecimento" - pode ser um desabafo, um xingamento, uma desforra, qualquer coisa - é sua prerrogativa falar com exclusividade, e do "opressor" não falar mais porque ele já falou.
Mas isso tem de ser entendido levando uma OUTRA coisa em consideração, que eu vou tocar no MEU podcast, porque eu sou copião mesmo:
As pessoas que sustentam isso nem sabem muito bem disso. Como todos os filhos do pós-modernismo, sustentam a "abridged version" disponível de modo meio mecânico e indo na onda dos outros. Não possuem o estofo intelectual, as leituras e sequer a disciplina de ter ido buscar isso no Foucault, Derida, Lacan, etc. Esse pessoal não tem estofo para ler nem orelha de "O Que é o Estruturalismo". Mal e mal lêem tweet da Anita. Vários nem saíram das cadeiras introdutórias da faculdade. Então é como uma sombra distante, uma farsa, uma mimetização, do discurso estruturalista.
Obrigada Douglas, você trouxe pontuações fantásticas! Consigo perceber toda essa dinâmica também. É uma das principais vantagens do discurso "progressista", tal como de qualquer populismo: pega a pessoa pelo coração, não pela cabeça. Distorcem os significados de "justiça" e "igualdade", e quem não prestar atenção adere à narrativa como se fosse algo óbvio a se defender - pois, afinal, que seria contra a justiça e a igualdade?
Daqui algumas semanas planejamos fazer um episódio lendo e comentando os feedbacks dos ouvintes, e trarei o seu com certeza. ;)
Jesus, como que abaixa o volume? kk