Por Iona Italia, PhD.
Parte Um: O Pânico da Masturbação
Cometeste fornicação contigo mesmo, pegaste teu membro viril na mão e deslizaste o prepúcio, movendo-o com a própria mão de tal forma a ejetar semente de ti?
Texto de confissão do século XI, citado em A Surgical Temptation, de Robert Darby
A circuncisão médica de rotina de recém-nascidos e meninos tornou-se popular na Inglaterra vitoriana tardia. Embora nunca tenha sido uma prática majoritária, estava disseminada entre as classes média e alta britânicas desde a década de 1890 até a década de 1940. A partir do Reino Unido, a moda se espalhou para outros países de língua inglesa. A prática permaneceu muito popular até meados da década de 1970 na Nova Zelândia, Canadá e Austrália. Os Estados Unidos continuam a prática: por lá, cerca de 50-60% dos recém-nascidos do sexo masculino ainda são rotineiramente circuncidados (antes era 85%). Em 2007, a Organização Mundial da Saúde estimou que um em cada três homens foi circuncidado em todo o mundo — mas a maioria é de muçulmanos, circuncidados por motivos religiosos (veja também aqui). Os EUA são o único país ocidental desenvolvido que realiza rotineiramente a circuncisão não religiosa em recém-nascidos. Como a prática foi adotada da Grã-Bretanha, para entendermos suas origens, precisamos traçar sua história na pátria mãe.
Antes da era vitoriana, poucos ocidentais eram circuncidados. Na Grécia e Roma clássicas, o corpo masculino intacto era considerado um objeto de beleza e a circuncisão vista como uma mutilação; a Igreja Católica proibiu explicitamente a prática para os cristãos em 1442; os ocidentais frequentemente associavam-na aos costumes pagãos estranhos de judeus e muçulmanos; e histórias assustadoras de cristãos capturados sendo circuncidados à força por piratas berberes eram abundantes. Para que a opinião sobre a prática passasse de repulsa para entusiasmo, foi necessário um estado de emergência. Os primeiros defensores esperavam que a circuncisão pudesse prevenir uma prática que acreditavam ameaçar o tecido social: a masturbação.
"O pecado hediondo da poluição própria", como um tratado médico best-seller o chamava, era responsabilizado por uma série de doenças, desde coqueluche até paralisia cerebral. O Medical Record de 1896 alertava para "convulsões infantis, doença da articulação do quadril, doença renal, paralisia, eczema, gagueira, dispepsia, tuberculose pulmonar, constipação, ataxia locomotora, reumatismo, idiotice, insanidade e luxúria", enquanto outra fonte médica popular descrevia as consequências como "debilidade do corpo e da mente — infecundidade — epilepsia — idiotismo — extrema vileza e até mesmo a morte em si." Na tentativa de evitar a masturbação, muitos pênis foram cauterizados, escaldados, queimados com ácido e circuncidados. A imaginária doença da espermatorreia — ejaculações indesejadas — também era responsabilizada por uma série de males e tratada com a inserção de agulhas através do períneo e na próstata, com cateterização da uretra e da bexiga com uma solução cáustica de nitrato de prata e, posteriormente, com a circuncisão.
Como seus predecessores nos séculos XVII e XVIII mais liberais em relação ao sexo, a maioria dos primeiros defensores da circuncisão reconhecia que o prepúcio era uma fonte de sensação erótica requintada, o local de "uma carne tão sensível e delicada que a natureza estabelecera ali o trono da sensibilidade e do prazer." Como Robert Darby mostrou em seu estudo detalhado, A Surgical Temptation [Uma Tentação Cirúrgica, em tradução livre], havia quase unanimidade nesse ponto, tanto entre entusiastas quanto detratores.
Só a partir da revolução sexual dos anos 1960 é que os defensores da circuncisão começaram a afirmar que a remoção do prepúcio não afeta o prazer sexual. Até aquele momento, quase todos concordavam que sim — essa era uma das principais razões pelas quais a defendiam.
Existe uma concepção errônea de que, como a Grã-Bretanha vitoriana era uma sociedade patriarcal, as conhecidas ansiedades de seus representantes em relação ao sexo levaram-nos a policiar e patologizar a sexualidade feminina, permitindo que os homens agissem livremente. Em uma sociedade tradicional, muitos argumentam, os padrões morais duplos incentivam os homens a oprimir as mulheres por falhas percebidas que eles próprios praticam impunemente. Há alguma verdade nisso: as consequências de ser considerada uma mulher caída — uma categoria que incluía muitas vítimas de estupro — eram mais graves do que ser considerado um libertino. Mas isso apresenta uma imagem extremamente simplificada. Os vitorianos observaram que os homens, em média, são mais motivados pelo sexo do que as mulheres — e muitos deles achavam o impulso sexual masculino degradante e bestial e tentavam reprimi-lo, especialmente em crianças, que são mais fáceis de controlar. Os homens eram encorajados a considerar seus desejos naturais pecaminosos e patológicos. Lutando contra sua homossexualidade, John Addington Symonds, por exemplo, confessa que "tratou o apetite sexual puro... como uma besta a ser suprimida e controlada, e posteriormente a ser pisoteada com a ajuda de cirurgiões e sua cauterização de órgãos sexuais." Ele encontrou muitos médicos mais do que dispostos a ajudá-lo.
A liberação de sêmen era considerada debilitante para os homens; o sexo era visto como esgotante, mesmo dentro do casamento; falsas analogias eram feitas entre a excitação e a irritação, as contrações do orgasmo e os ataques epiléticos; a sonolência natural que segue o clímax era comparada à exaustão nervosa. Os impulsos sexuais naturais foram demonizados — não é de se estranhar que uma parte integrante da genitália masculina normal fosse considerada, por alguns, "uma fonte de aborrecimento, perigo, sofrimento e morte". Em uma época sem anticoncepcionais confiáveis, os medos da superpopulação, alimentados pelo ensaio de Malthus de 1798, provavelmente também contribuíram para o desejo de controlar o desejo masculino.
Os comentaristas contemporâneos não entendiam a natureza do impulso sexual masculino ou seu propósito evolutivo vital. Seus mecanismos são neurológicos e hormonais. Não pode ser significativamente diminuído pela redução da sensibilidade tátil do pênis ou pela remoção do prepúcio. Até onde sei, não há evidências que sugiram que homens circuncidados são menos motivados pelo sexo, mais propensos a permanecerem castos, menos inclinados à violência sexual ou menos propensos à masturbação. Os vitorianos estavam tentando controlar os impulsos das mentes masculinas castigando seus corpos. Eles administravam punições corporais cada vez mais extremas em seus esforços para controlar o desejo masculino — um esforço totalmente fútil.
O movimento da pureza contemporâneo estava igualmente obcecado em manter a mente livre de pensamentos impuros e o corpo livre de sujeira. Após a descoberta de John Snow, em 1854, de que a água potável contaminada com esgoto causava cólera, os vitorianos realizaram grandes projetos de saneamento urbano, limpando bairros de favelas, onde a pobreza e a superlotação proporcionavam condições ideais para a disseminação de epidemias. Muitos médicos acreditavam que, como as cidades, os corpos tinham bolsões de sujeira onde a imundície poderia se acumular, criando doenças.
A descoberta da anestesia por William Morton em 1846 e o desenvolvimento da teoria dos germes por Lister na década de 1860 facilitaram grandes avanços na cirurgia, que anteriormente era aterrorizante, dolorosa e extremamente perigosa. Usando as novas técnicas anestésicas e assépticas, os cirurgiões extirparam partes do corpo supostamente vestigiais — como amígdalas, adenoides, dentes e até cólons — que acreditavam abrigar germes, como medida preventiva. Facilmente acessível, o prepúcio era um candidato óbvio para remoção profilática. Apesar de suas utilidades práticas na cirurgia, a teoria dos germes era pouco compreendida por muitos médicos. Teorias mais antigas persistiam: entre elas a ideia de que a doença poderia ocorrer espontaneamente, à medida que a sujeira ficava presa em cantos e recantos do corpo, como por exemplo, abaixo do prepúcio, fermentando. Naturalmente, então, a circuncisão foi adotada como uma medida preventiva contra doenças venéreas, até que a ligação entre o prepúcio e a sífilis foi desmentida.
Na década de 1930, à medida que a paranoia sobre os efeitos nocivos da masturbação começou a diminuir e os médicos estavam se tornando muito menos propensos a considerar o impulso sexual masculino intrinsecamente patológico, a circuncisão se tornou menos popular. O debate médico passou a questionar se a circuncisão prevenia ou não outras doenças. Mesmo no auge da moda, apenas cerca de um terço dos britânicos havia sido circuncidado, tornando os estudos comparativos fáceis. Como a operação não estava isenta de riscos graves, alguns cirurgiões britânicos sempre se opuseram. O artigo amplamente lido de Douglas Gairdner em 1949 no British Medical Journal, "O Destino do Prepúcio", desmascarou com sucesso muitas das alegações feitas pelos defensores e enfatizou os riscos de morte e deformidade. Os argumentos de Gairdner prevaleceram.
Parte Dois: Uma Cura em Busca de uma Doença: Circuncisão Médica nos EUA Hoje
O que acontecerá de terrível se o prepúcio de um bebê for completamente deixado em paz?
R. Ainsworth, British Medical Journal, 1935
Enquanto isso, a prática havia sido exportada para os EUA. Os primeiros defensores americanos, assim como seus colegas britânicos, consideravam a circuncisão um meio eficaz de reduzir a sensação peniana e, portanto, prevenir a masturbação. John Harvey Kellogg considerou-a um remédio para a masturbação em meninos — ele sugeriu queimar o clitóris das meninas com ácido carbólico com o mesmo propósito. Ele até aconselhou contra o uso de anestésico: "a breve dor acompanhando a operação terá um efeito salutar sobre a mente, especialmente se estiver associada à ideia de punição."
No entanto, mesmo quando as atitudes em relação ao sexo se liberalizaram, os americanos não abandonaram a prática. Em vez disso, os defensores mudaram de justificativa. Após a revolução sexual dos anos 1960, quando reduzir a sensação erótica passou a ser considerado algo negativo, de repente a circuncisão passou a ser considerada inócua sobre a sensação — em vez disso, era dito que era mais higiênica e reduzia o risco de certas doenças.
A circuncisão é uma anomalia cirúrgica: envolve a remoção de tecido saudável de um grupo de pacientes especialmente vulnerável — recém-nascidos — sem consentimento e sem necessidade médica iminente. A declaração de política da Academia Americana de Pediatria (AAP) sobre a circuncisão de 2012, muito criticada e agora oficialmente findada, é, portanto, curiosamente redigida:
As evidências científicas existentes demonstram potenciais benefícios médicos da circuncisão neonatal masculina; no entanto, esses dados não são suficientes para recomendar a circuncisão neonatal de rotina. Nas circunstâncias em que há potenciais benefícios e riscos, mas o procedimento não é essencial para o bem-estar atual da criança, os pais devem determinar o que é de melhor interesse para a criança.
"As evidências científicas existentes demonstram", começa a declaração com confiança, apenas para minar isso com a imprecisão dos "benefícios potenciais" e dados que "não são suficientes" para recomendar a prática. A cirurgia é profilática, recomendada com base em um "vai que precisa", e a responsabilidade por essa decisão médica irreversível é delegada aos pais.
A linguagem implica que os pais são frequentemente chamados a decidir se submetem uma criança a modificações cirúrgicas corporais medicamente não essenciais — no entanto, isso parece ser uma ocorrência relativamente rara. Por exemplo, um pai não pode agendar uma apendicectomia a menos que seu filho tenha apendicite ou seja considerado em alto risco devido a uma tomografia computadorizada anormal. De acordo com a Harvard Medical School, amígdalas inflamadas ou aumentadas podem causar condições como apneia do sono, "que pode ser grave e levar a problemas de saúde e comportamentais". No entanto, mesmo no caso de infecções recorrentes, eles recomendam amigdalectomia apenas em casos extremos, enfatizando que "a decisão não deve ser tomada levianamente". Os pais podem optar por extrair os dentes do siso de um filho profilaticamente, mas a maneira como o processo de tomada de decisão é descrito é notavelmente diferente da justificativa da AAP para a circuncisão: "devemos confiar na experiência e na perícia do clínico em reconhecer a probabilidade de que a patologia se desenvolva e na sua capacidade de comunicar isso em termos realistas ao paciente". A ênfase é em pesar a possibilidade de danos médicos futuros — não em respeitar as preferências culturais dos pais. Pedir aos pais que tomem decisões clínicas importantes sem orientação clara dos médicos coloca um fardo impossível sobre eles e é uma maneira inconsciente da comunidade médica se esquivar da responsabilidade.
Quatro principais condições sob as quais dizem que a circuncisão dá proteção são geralmente citadas pelos defensores do procedimento: fimose, infecções do trato urinário (ITU), HIV/AIDS e câncer peniano.
A fimose patológica é uma condição pouco comum em que o prepúcio fica desconfortavelmente apertado e não pode ser facilmente retraído. As opções de tratamento incluem cremes esteroides ou outros unguentos, que têm cerca de 90% de eficácia, e apenas ocasionalmente a cirurgia pode ser necessária (mas mesmo assim, é uma cirurgia menor chamada prepucioplastia — que preserva o máximo possível do prepúcio — que é normalmente indicada, em vez da circuncisão total). A fimose fisiológica, no entanto, não é uma condição médica, mas uma etapa natural do desenvolvimento. Na primeira infância, o prepúcio adere firmemente ao pênis, como uma unha em sua matriz, formando uma bainha protetora. As aderências que prendem o prepúcio à glande se dissolvem gradualmente até que, em algum momento entre o nascimento e a puberdade — e, em quase todos os casos, até os 18 anos — o órgão fica solto, móvel e facilmente retrátil, um processo acelerado pela tendência natural das crianças a tatear e explorar. Se o prepúcio for retraído prematuramente e à força, pode causar laceração, sangramento e cicatrizes e tornar a criança mais suscetível a infecções. A AAP tem sido amplamente criticada por não descrever adequadamente a anatomia peniana em suas diretrizes e parece provável que muitos médicos e enfermeiros americanos, não familiarizados com o pênis intacto, possam continuar a causar ferimentos ao retrair à força os prepúcios dos meninos ou aconselhar os pais a fazer isso.
Infecções do trato urinário são muito mais comuns em meninas do que em meninos. Apenas cerca de 1% dos meninos terão uma ITU antes dos dez anos e a maioria não desenvolverá infecções subsequentes. Isso significa que são necessárias cem circuncisões para prevenir uma única infecção do trato urinário — provavelmente uma fácil de tratar. As ITUs podem ser tratadas com antibióticos e geralmente desaparecem em uma semana.
Estudos sobre a transmissão heterossexual de HIV de mulher para homem, realizados em homens africanos adultos, mostraram uma redução absoluta no risco de 1-2%, embora os estudos tenham sido interrompidos precocemente e não tenha havido acompanhamento a longo prazo além de vinte e quatro meses (veja também aqui). Alguns críticos manifestaram preocupação que, se a circuncisão for divulgada como prevenção do HIV, os homens circuncidados podem negligenciar o uso de preservativos, colocando a si próprios e às suas parceiras em maior risco (as evidências para isso até agora são mistas). Considerando que, mesmo circuncidado, você ainda precisa praticar sexo seguro para estar protegido, a operação não parece ser uma medida muito eficaz, mesmo no contexto africano — e o HIV por contato heterossexual é muito incomum nos EUA. De qualquer forma, essas preocupações sexuais adultas são irrelevantes para os bebês.
O câncer de pênis é uma doença rara, que afeta principalmente homens mais velhos com graves problemas de higiene — por exemplo, aqueles que vivem nas ruas — que negligenciaram o tratamento dos primeiros sintomas. Como nem o câncer de pênis nem o HIV transmitido heterossexualmente têm grande chance de afetar crianças, qualquer pessoa preocupada com esses riscos pode ser circuncidada como um adulto capaz de consentir.
A objeção de que um pênis intacto é intrinsecamente anti-higiênico é uma razão frívola para a cirurgia. A genitália feminina tem muito mais rebordos, dobras e vincos; a vagina produz secreções naturais que variam de líquidos escorregadios e transparentes a sangue espesso e pegajoso e raramente é inodora. No ocidente, não defendemos a cirurgia para tentar corrigir esse "problema" — e com razão. Os órgãos genitais não precisam ser estéreis e, para evitar que fiquem excessivamente odoríferos, basta lavá-los.
A higiene é muitas vezes citada como a razão pela qual os israelitas — habitantes do deserto com pouco acesso à água — defendiam a circuncisão, e é mencionada uma boa razão para imitá-los. No entanto, esse motivo nunca é mencionado na Torá ou na midrash. Na verdade, a ignorância dos primeiros judeus em relação à teoria dos germes e à sepse tornava a operação extremamente perigosa, especialmente para os recém-nascidos, cujos sistemas imunológicos ainda não estão totalmente desenvolvidos. Práticas tradicionais como rasgar o prepúcio com a unha e a metzitzah aumentavam os riscos. Comentários rabínicos sugerem que mortes por infecções pós-circuncisão eram comuns em tempos antigos. A circuncisão era realizada por razões espirituais, apesar dos riscos à saúde, e não como uma prática de saúde.
Os dentes requerem muito mais cuidados do que os pênis e são altamente propensos à cárie, que pode ter consequências graves — a cárie tem sido implicada em doenças cardíacas e a periodontite é perigosa durante a gravidez — mas a maioria dos dentistas reluta em realizar extrações. Tampas, coroas, tratamentos de canal e outros tratamentos são empregados para preservar ao máximo possível um dente doente ou podre; aparelhos ortodônticos desconfortáveis e caros e alinhadores invisíveis são usados para reposicionar dentes esteticamente prejudiciais ou obstrutivos. Geralmente não removemos os dentes profilaticamente, apesar do nosso conhecido amor pelo açúcar e da suscetibilidade à cárie. Portanto, parece estranho sugerir a remoção de uma parte do corpo que pode ser limpa em alguns segundos, pela retração e enxágue com água.
Parte Três: Sensação Sexual
Acredito que a intenção do rito [da circuncisão] era ... promover ... a castidade da raça, embotando mecanicamente a sensibilidade do órgão do apetite sexual.
Carta anônima à revista Lancet, 1874
O prepúcio é muitas vezes tratado com desprezo como um mero capuz de pele. No entanto, a pele varia muito em suas qualidades táteis. A pele da ponta do dedo é muito mais sensível do que a do cotovelo; a pele do capuz do clitóris é mais responsiva ao toque do que a do calcanhar. O sistema de pele móvel do prepúcio é ricamente suprido com vasos sanguíneos e nervos, incluindo uma densa rede de receptores de tato fino. Ele também pode servir para proteger a pele da glande de engrossar e queratinizar devido à exposição constante e ao atrito.
Apesar da profusão de células nervosas no prepúcio, ativistas pró-circuncisão frequentemente argumentam que a operação não resulta em perda de sensação erótica. Claro, as sensações eróticas são, como outras qualia, difíceis de quantificar e comparar. No entanto, há fortes indícios de que a sensação é reduzida nos homens circuncidados.
Primeiro, estudos que utilizam métodos objetivos para medir os limiares de sensibilidade mostraram consistentemente que o prepúcio é a parte do pênis mais sensível ao toque leve. Remover o prepúcio obviamente elimina qualquer sensação que seria experimentada nesse tecido excisado, com sua sensibilidade particular ao toque leve.
Há também evidências comportamentais para uma maior sensibilidade nos não circuncidados. São evidências anedóticas, mas não devem ser descartadas, pois compreendem dados observacionais que usamos para fazer deduções em outras situações. Por exemplo, se vemos alguém coçando levemente, concluímos que ela tem uma coceira leve. Se vemos ela coçando com força e repetidamente, enfiando as unhas, presumimos que ela sinta uma coceira forte ou irritação. Da mesma forma, se comparamos as técnicas de masturbação de homens circuncidados versus intactos (veja aqui um vídeo ilustrativo do último), notamos que os primeiros geralmente seguram o pênis com mais firmeza e esfregam muito mais rápido e com mais força. Isso sugere fortemente que mais pressão é necessária para alcançar o mesmo nível de sensação. Também notamos que os homens não circuncidados geralmente não optam por tocar a glande diretamente. Em vez disso, geralmente manipulam o próprio prepúcio, segurando-o levemente entre dois dedos e um polegar e movendo-o para frente e para trás sobre a glande. Essa seria uma escolha inexplicável se o prepúcio fosse apenas uma obstrução. Esse comportamento implica que a sensação e/ou o movimento do prepúcio aumentam o prazer sensorial.
Também é possível adivinhar a sensibilidade de nossos parceiros sexuais a partir de suas respostas físicas e verbais. Embora os indivíduos variem bastante, a experiência direta e o testemunho daqueles que têm relações sexuais com homens revelam certos padrões. Alguns toques mais leves, que provocam respostas de deleite nos homens intactos, são pouco sentidos ou até mesmo passam despercebidos por aqueles que foram circuncidados. Mais pressão é necessária para provocar prazer: o limiar é mais alto. Assim como o clitóris, a glande nos homens intactos também pode se tornar excessivamente sensível e, como com o capuz clitoriano, tocar através do prepúcio reduz essa sensação de desconforto para o prazer.
Durante o sexo penetrativo, os homens intactos também podem desfrutar de movimentos mais gentis e lentos, enquanto os circuncidados requerem penetrações mais vigorosas e sustentadas para manter a ereção. Isso pode ser uma desvantagem para as parceiras, já que muitas mulheres relatam que obtêm mais prazer com a estimulação do clitóris externo. Ações mais gentis que permitem aos amantes esfregar suas áreas púbicas juntas durante a relação sexual podem ser muito gratificantes para ambos. Além disso, nem todo mundo gosta de estar na extremidade receptora de estocadas vigorosas e sustentadas, e isso pode ser frustrante para os amantes, se o homem foi circuncidado e precisa de movimentos muito fortes para se manter suficientemente estimulado. Menciono esses detalhes porque a preferência feminina é com frequência citada como justificativa para a circuncisão. No entanto, a principal consideração aqui deve ser a experiência sexual e os desejos do homem — sobre os quais não podemos saber nada enquanto ele é um bebê.
Homens heterossexuais circuncidados muitas vezes argumentam que não desejam ser mais sensíveis porque isso levaria à ejaculação precoce, deixando suas parceiras insatisfeitas. Isso implica que a sensibilidade é um botão de volume e que as únicas variações são para cima ou para baixo. No entanto, é provável que diferentes graus de firmeza produzam diferentes sensações, assim como ser acariciado é diferente de receber uma massagem profunda nos tecidos. O Dr. Ali Amjad Rizvi descreveu o sexo sem prepúcio como "ouvir uma orquestra sinfônica sem a seção de cordas": os receptores de toque leve produzem um timbre distinto de prazer. Além disso, embora seja possível reduzir a sensibilidade — usando preservativos, géis dessensibilizantes ou se masturbando até o orgasmo antes do sexo — é muito difícil aumentá-la. A sensibilidade varia entre os indivíduos e tende a diminuir com a idade: aqueles com uma glande naturalmente menos sensível, bem como homens mais velhos, podem se beneficiar especialmente de permanecer intactos.
Os homens circuncidados costumam resistir à ideia de que podem ser menos sensíveis do que os intactos. Ninguém deseja se sentir sexualmente inadequado ou inferior — e não deveriam. Imaginação, criatividade, empatia, ternura — todos esses aspectos fazem uma enorme diferença em nossa experiência sexual. Mesmo em encontros casuais, geralmente nos relacionamos uns com os outros como pessoas, e não como meras coleções de partes anatômicas. As mulheres variam muito — possivelmente mais do que os homens — em nossa resposta sexual: algumas desfrutam de orgasmos múltiplos, enquanto outras têm dificuldade em atingir o orgasmo. Mas os pênis e as vaginas estão ligados a pessoas. Para pessoas atenciosas, encontrar maneiras de dar prazer um ao outro é um jogo amoroso. Exploramos as necessidades e preferências de nossos parceiros: não os julgamos. Sempre devemos trabalhar com o que temos e respeitar as necessidades e desejos do parceiro individual. Comparações são especialmente odiosas nas relações sexuais.
Um argumento comum a favor dos pênis circuncidados é que algumas pessoas preferem sua aparência. Isso parece contraintuitivo. Equipados com um prepúcio em todas as espécies de primatas, os órgãos sexuais masculinos coevoluíram com seus equivalentes femininos ao longo de milênios, e sua aparência pode até ter sido parcialmente moldada pela escolha feminina. A aversão aos prepúcios pode ser resultado da falta de familiaridade com pênis intactos, especialmente entre as mulheres americanas, e da prevalência da pornografia. Pode ser mais fácil ver o que está acontecendo sem um prepúcio parcialmente obscurecendo a vista e, na pornografia, é claro, as considerações visuais são mais importantes do que o prazer dos participantes. O fato de algumas pessoas se sentirem repelidas pela aparência natural do corpo humano e preferirem genitais cirurgicamente alterados aos intactos parece preocupante e pode refletir atitudes sexistas ou misantrópicas. Mas adultos que consentem devem escolher seus parceiros sexuais usando quaisquer critérios que desejarem. No entanto, impor cirurgia estética a um bebê por causa das preferências adultas parece perverso.
Parte Quatro: Os Direitos da Criança
Seus filhos não são seus filhos.
São os filhos e as filhas da vida desejando a si mesma.Kahlil Gibran, "On Children"
Muitas vezes ouço o argumento de que, como um bebê não retém memória de sua circuncisão, ele não pode ser considerado sofredor. Isso implica que o sofrimento é um fenômeno totalmente baseado no futuro e que não podemos sofrer no momento. No entanto, os gritos agudos, lutas e, às vezes, silêncio catatônico de um bebê sugerem que ele pode e de fato sente dor. Não usamos esse raciocínio para justificar qualquer outro tipo de tortura infligida às crianças. Além disso, podemos ter certeza de que uma experiência tão traumática nunca terá efeitos prejudiciais a longo prazo, mesmo que não seja lembrada conscientemente? Se uma das primeiras experiências de uma criança ao entrar no mundo é ser amarrada e submetida a uma dor excruciante, podemos ter certeza de que isso nunca afetará seu desenvolvimento emocional e psicológico? Algumas pesquisas sugerem consequências adversas. Parece prudente e humano errar pelo lado da cautela aqui.
Parte Cinco: E aqueles que gostam de ser circuncidados?
Muitos homens circuncidados se sentem perfeitamente felizes com seus pênis. Eles não têm memória de nenhum trauma, nem meio direto de comparação. Eles não podem dizer o que poderiam ter sentido se fossem intactos — e têm prazer com o que são capazes de sentir agora. Para muitos, o sexo é uma experiência feliz. Isso é maravilhoso. O problema são aqueles que não estão felizes: os homens que têm consciência de sua sensação reduzida e possibilidades sexuais, que têm cicatrizes, aderências ou deformidades como resultado de circuncisões malfeitas, ou que estão ressentidos com a violação de sua autonomia corporal. A circuncisão é irreversível. A pele restante pode às vezes ser esticada para fornecer a aparência de um prepúcio, mas as células nervosas não podem ser regeneradas. Se você é intacto, tem escolha. Você pode ser circuncidado sem dor, sob anestesia, como adulto: um procedimento de baixo risco no ocidente. Mas se você foi cortado, você não tem escolha. Você não pode ser descircuncidado.
A circuncisão não é, em si, uma mutilação. Alguns homens escolhem fazê-lo na idade adulta — embora, curiosamente, essa seja uma escolha incomum. Algumas mulheres trans que nasceram com sexo masculino até escolhem remover todo o pênis durante a cirurgia de redesignação de gênero. Essas são opções válidas para adultos informados e que consentem. Mas ninguém deve ter o direito de remover tecido genital saudável ou manipular órgãos sexuais contra a vontade ou sem o consentimento alheio. Devemos realizar cirurgias irreversíveis em crianças apenas quando a vida, a saúde ou o pleno desenvolvimento da criança estiverem ameaçados. Os corpos das crianças não são propriedade de seus pais, para serem modificados de acordo com nossos desejos ou valores. A maioria dos pais concorda, mas muitos foram enganados pela profissão médica ou não refletiram completamente sobre como a circuncisão forçada viola esses princípios.
Isso também se aplica aos filhos de pais religiosos. O direito à integridade corporal é um direito humano e, como todos os direitos humanos, é concedido ao indivíduo, não ao grupo. Um menino judeu ou muçulmano deve desfrutar dos mesmos direitos humanos que qualquer outra criança. Quando adultos, eles podem decidir ser circuncidados como um sacramento religioso. Mas isso deve ser uma escolha livre. A circuncisão é considerada uma aliança entre deus e o homem, assinada no corpo: como pode um acordo ser válido quando uma das partes foi coagida e nem mesmo sabia o que estava acontecendo? Essa modificação genital é profundamente significativa para muitos homens judeus e muçulmanos, como uma prática espiritual e marcador de identidade e pode e deve permanecer assim para aqueles que desejam, mas deve ser adiada até que a pessoa em questão tenha idade suficiente para escolher livremente.
Pais circuncidados podem querer que seus filhos se pareçam com eles. Querer que seus filhos se pareçam com você é um desejo profundo e natural. Mas, para a maioria dos pais, há um desejo ainda mais forte: ver seu filho feliz. Por que arriscar alterar permanentemente seu corpo de uma maneira que ele pode vir a se ressentir e que você pode se arrepender mais tarde? Ele sempre pode optar por ser circuncidado sem dor, na idade adulta, sob anestesia. Por que não dar a ele a liberdade de escolha que lhe foi negada?
©2023 The Second Swim. Publicado com permissão. Original em inglês.
Iona Italia é uma escritora, editora e tradutora, originalmente do Reino Unido, mas agora residente na Argentina. Ela possui um doutorado em Literatura Inglesa pela Universidade de Aberdeen, na Escócia. Iona escreveu artigos e ensaios para várias publicações, abordando temas como literatura, política e questões sociais. Ela também é a apresentadora do podcast "Two for Tea", no qual entrevista escritores, pensadores e outras figuras públicas, discutindo seus trabalhos e participando de conversas sobre diversos assuntos. Iona é conhecida por seu estilo de escrita envolvente, sua curiosidade intelectual e sua capacidade de se conectar com seu público.