O Teste de Personalidade Myers-Briggs é confiável? (spoiler: não)
Por Laith Al-Shawaf1
A classificação tipológica de Myers-Briggs é o teste de personalidade mais popular do mundo. É um dos favoritos entre as empresas da Fortune 1002, agências governamentais e pessoas comuns. Mais de 1,5 milhão de pessoas o fazem todos os anos. É uma indústria próspera que levanta milhões de dólares anualmente. E como qualquer psicólogo que se preze o dirá, é pura baboseira.
Aqui está o porquê.
Razão 1: Ele é baseado nas ideias de Carl Jung
O primeiro motivo é um dos menos importantes, mas é bom começar com um pouco de história. O teste de personalidade de Myers-Briggs é baseado nas ideias de Jung, que são - para dizer o mínimo - empiricamente infundadas.
Jung foi um psiquiatra e psicanalista suíço que trabalhou na primeira metade do século XX. Ele tinha um interesse perdurável por religião, mitologia, alquimia e astrologia. Esses interesses repercutem em suas ideias, algumas das quais estão mais próximas de afirmações místicas ou sobrenaturais do que científicas. Jung não colocou muita ênfase em testar suas ideias por meio de estudos empíricos rigorosos, um problema que reconhecidamente não era exclusividade dele durante sua época. Após a morte de Jung, dois não-especialistas com treinamento limitado em psicometria ou construção de testes criaram o Indicador Tipológico de Myers-Briggs (MBTI, sigla de Myers-Briggs Type Indicator), um teste de personalidade baseado nas ideias não-comprovadas de Jung.
Por si só, isso não é suficiente para rejeitar o MBTI: um teste poderia ser criado por não-especialistas e baseado em ideias sem suporte empírico, e ainda assim fazer um trabalho preciso de medição da personalidade humana. Mas certamente é razão para sermos cautelosos.
Razão 2: O teste carece de validade preditiva - ele não prevê resultados no mundo real
O objetivo dos testes de personalidade não é apenas falar sobre você, mas também prever resultados dentro do mundo real. Mas, repetidamente, os estudos mostram que o MBTI não prevê bem resultados de carreira, relacionamentos românticos ou qualquer outra coisa com que possamos nos importar.
Por outro lado, existem testes de personalidade validados cientificamente que predizem de forma útil toda sorte de coisas, desde o desempenho na carreira até a probabilidade de você se divorciar ou de ter um distúrbio psicológico (por exemplo, veja aqui). Testes preditivamente bem-sucedidos existem, mas o Myers-Briggs não é um deles.
Razão 3: A personalidade humana se apresenta num contínuo, não em categorias discretas
Isso tem implicações importantes.
Algumas variáveis são contínuas: elas caem em um continuum ou espectro. Outras variáveis são categóricas: elas se enquadram em categorias distintas e organizadas. Por exemplo, sua altura é contínua: ela cai em algum lugar em um espectro de extremamente baixo a extremamente alto. Você pode estar em qualquer lugar nesse espectro - digamos, 1,62m, 1,75m ou 1,90m. Em contraste, a religião é uma variável categórica: você é judeu, cristão, muçulmano, jainista, ateu ou qualquer outra coisa.
Se eu medir o quão longe você pode jogar uma moeda, a resposta será contínua: a distância cai em um espectro, e a moeda pode alcançar qualquer lugar desse espectro. Se eu medir como essa moeda cai (qual lado dela estará voltado para cima), a resposta será categórica: só pode ser cara, coroa ou borda. Não há outras opções e a resposta se enquadra perfeitamente em uma dessas categorias.
A personalidade humana é contínua, não categórica. É como altura, não religião. É como até onde você pode jogar uma moeda, não como a moeda vai cair. O problema é que a estrutura do Myers-Briggs afirma ousadamente que a personalidade se enquadra em categorias ou tipos. E ainda afirma, sem nenhuma evidência real, que existem exatamente 16 desses tipos.
Existem diferentes modelos de personalidade humana. Um modelo proeminente chamado de Big 5 sugere que cada pessoa cai em algum lugar num continuum de Abertura para a experiência que varia de baixo a alto, em algum lugar em um continuum de Conscienciosidade baixa a alta, em algum lugar num continuum de Extroversão, em algum lugar num continuum de Amabilidade, e em algum lugar num continuum de Neuroticismo (abreviado OCEAN).3 Cada pessoa tem uma pontuação em todos esses cinco contínuos. Se você testar uma pessoa e obtiver sua pontuação em todas as cinco dimensões, terá um bom esboço (embora incompleto) de sua personalidade geral, ou seja, quem ela é e como se difere das outras pessoas.
Um modelo diferente de personalidade chamado HEXACO sugere que a personalidade pode ser melhor capturada estatisticamente com seis dimensões principais, não cinco. Esses seis traços são Honestidade-humildade, Emocionalidade, Extroversão, Amabilidade, Conscienciosidade e Abertura para experiências.4
Os dois modelos diferem entre si, mas concordam com um fato central: a personalidade se apresenta ao longo de vários contínuos, não em tipos distintos. Por exemplo, a melhor maneira de conceituar introversão-extroversão é localizando-a em um espectro, não imaginando que as pessoas se enquadram em um dos dois tipos chamados introvertidos e extrovertidos. Ambos os modelos têm mais evidências a seu favor do que o Myers-Briggs.
Um contínuo tem um número infinito de pontos, e estamos lidando com cinco ou seis contínuos aqui. Portanto, se realmente quiséssemos contar quantos tipos diferentes de personalidade existem, a resposta seria: infinito multiplicado por si mesmo cinco ou seis vezes. Se isso lhe parece uma maneira perversamente inútil de descrever as coisas, você está certo. Como os traços de personalidade seguem um continuum, não deveríamos sequer estar falando sobre tipos distintos de personalidade.
O Myers-Briggs pega a complexidade bela e ricamente graduada da personalidade humana e a compacta em 16 tipos. A estrutura é organizada e fácil de lembrar, e a taxonomia dos tipos de personalidade parece legal. Mas a imagem resultante é infiel à realidade.
Razão 4: Os tipos usados pelo MBTI têm limites arbitrários
Comprimir a personalidade em tipos cria o problema dos limites arbitrários: uma vez que você tenha especificado os tipos que supostamente existem, você deve definir seus limites. Mas é muito difícil definir esses limites de uma forma não-arbitrária.
Por exemplo, imagine que eu pego a variável da altura, que é contínua no mundo real, e tento colocá-la em categorias. Eu poderia afirmar que existem três categorias de altura e rotulá-las de baixa, média e alta. Mas agora tenho um problema: quais deveriam ser os limites dessas categorias? Uma pessoa de 1,77m se enquadra na categoria média ou alta? E quanto a alguém de 1,65m - ele conta como baixo ou médio? E com base em quê devo tomar essa decisão? Não existe uma maneira baseada em princípios para definir os limites das categorias, e qualquer método que eu escolher será arbitrário. Não existe um verdadeiro médio ou alto na natureza, então não posso olhar para o mundo externo para me ajudar a decidir. Tenho que decidir como definir os limites da minha categoria usando intuição, voto majoritário ou algum outro método arbitrário.
O MBTI tenta lidar com esse problema usando uma divisão mediana. Isso significa que muitas pessoas são testadas e suas pontuações em um traço como o da extroversão são ordenadas da mais baixa à mais alta. Por exemplo, se testarmos 50 pessoas, terminaremos com uma lista de todas as 50 pontuações de extroversão, indo da mais baixa para a mais alta em ordem sequencial.
O método de divisão mediana diz: vamos dividir essa lista bem no meio. Consideraremos todas as pontuações acima do meio (a mediana) como extrovertidas e consideraremos todas as pontuações abaixo da mediana como introvertidas. Mas o problema permanece: por que usar a mediana? Por que não a média? Por que não algum outro método?
A resposta é que não existe uma forma de decisão não-arbitrária e baseada em princípios. E nenhum método resolverá seu problema principal: você pegou uma variável de natureza contínua e tentou encaixá-la em uma cama de Procusto. Isso cria muitos problemas posteriores, dos quais a questão dos cortes arbitrários é apenas o primeiro. O próximo tem a ver com a confiabilidade do teste.
Razão 5: O Myers-Briggs tem baixa confiabilidade
Os psicólogos medem se um teste é bom ou não de várias maneiras. Uma medida importante é chamada de confiabilidade de teste e reteste. Isso significa que o teste deve fornecer aproximadamente os mesmos resultados se você realizá-lo uma vez e repeti-lo algumas semanas depois. Um pouco de flutuação é normal, porque todo mundo muda um pouco dependendo do contexto. Mas sua personalidade não varia muito de semana para semana, então um bom teste não deve oferecer resultados totalmente diferentes de uma sessão para a outra.
O MBTI viola essa regra com bravata e fanfarra. Ele tem uma confiabilidade de teste e reteste terrível, muitas vezes reclassificando os participantes no tipo de personalidade oposto de uma sessão para a próxima. Por exemplo, alguns estudos descobriram que em um período de cinco semanas, ele reclassifica 50% dos participantes em um tipo de personalidade diferente. Uma confiabilidade tão baixa assim é considerada inaceitável na psicologia.
Como o problema dos limites arbitrários, o problema da confiabilidade insatisfatória é uma consequência de tomar uma variável contínua e tentar torná-la categórica. Você é forçado a definir os limites de suas categorias, então decide usar a mediana. Mas isso cria um novo problema: muitas pessoas pontuam um pouco acima ou logo abaixo da mediana. Na verdade, muitos mais agrupam-se em torno da mediana do que caem nos extremos. Se essas pessoas fizerem o teste novamente três semanas depois e se sentirem um pouco mais gregárias (ou enérgicas ou ansiosas), o teste pode facilmente reclassificá-las para o tipo de personalidade oposto. Isso é exatamente o que o MBTI regularmente faz.
Razão 6: O Myers-Briggs enganosamente implica que existem grandes diferenças entre os tipos e diferenças mínimas dentro de um tipo
Ao alocar as pessoas em tipos distintos de personalidade, o Myers-Briggs implica duas coisas adicionais.
Em primeiro lugar, ele implica que aqueles que ficam logo abaixo do limite de um determinado tipo são fundamentalmente diferentes daqueles que ficam logo acima dele. Mas, na realidade, os introvertidos limítrofes e os extrovertidos limítrofes são muito semelhantes entre si.
Em segundo lugar, ele implica que todas as pessoas dentro de um determinado tipo são razoavelmente semelhantes - todos os extrovertidos compartilham uma qualidade fundamental, assim como todos os introvertidos. Isso implica que os pontuadores extremos em um tipo são razoavelmente semelhantes aos pontuadores limítrofes do mesmo tipo. Isso está errado - introvertidos extremos são, na verdade, muito diferentes dos introvertidos limítrofes.
Por exemplo, imagine que o limite para extroversão seja de 50%. Você classificaria alguém com pontuação de 10% ou 45% como introvertido e alguém com pontuação de 55% como extrovertido. Mas, na realidade, o introvertido limítrofe (que marcou 45%) está muito mais perto do extrovertido limítrofe (55%) do que o introvertido extremo (10%). E, no entanto, o teste agruparia os introvertidos limítrofes e extremos - apesar do vasto abismo entre eles (uma diferença de 35 pontos) - e consideraria o introvertido limítrofe totalmente diferente do extrovertido limítrofe, apesar de sua semelhança (uma diferença de 10 pontos).
Em testes como o Myers-Briggs, aqueles que mal conseguem entrar em uma categoria são considerados membros plenos e iguais dessa categoria, não menos do que os pontuadores extremos. E aqueles que mal entram em uma categoria são considerados totalmente diferentes daqueles que mal entram na outra categoria. Conceitualmente, isso é exatamente o contrário do que deveria ser.
Razão 7: Quando você transforma uma variável contínua numa categórica, você descarta informações
Há outro motivo pelo qual a maioria dos pesquisadores evita dicotomizar uma variável contínua: fazer isso envolve descartar informações valiosas.
Digamos que eu meça a altura de todos os alunos em minhas aulas. Eu obtenho uma rica gama de alturas exatas variando de 1,50m a 1,88m. Então decido classificar as pessoas nas categorias de baixo, médio e alto. Para fazer isso, tenho que jogar fora algumas informações. Eu acabo indo da altura exata de cada pessoa (precisa) para as descrições aproximadas de baixo, médio e alto (menos precisas). Decidi descartar a rica complexidade e os matizes de diferença entre meus alunos em favor das categorias mais rudes e imprecisas.
Existem algumas circunstâncias nas quais pode ser útil fazer isso. Mas essas circunstâncias são raras e não se aplicam à avaliação da personalidade. Algumas variáveis humanas são categóricas (por exemplo: ele matou aquela pessoa ou não?). Nesses casos, alguns dos quais se enquadram nas áreas da psicopatologia, as abordagens baseadas em tipos podem ser úteis. Mas as evidências sugerem que isso não se aplica à maioria dos traços de personalidade.
Razão 8: O MBTI não mede o neuroticismo
O neuroticismo é uma variável importante da personalidade. Descreve quanto da vida mental de uma pessoa é ocupada por emoções negativas, especialmente sentimentos de ansiedade, tristeza e vulnerabilidade. Pessoas com pontuação mais alta em neuroticismo experimentam episódios de emoção negativa mais frequentes, mais intensos e mais duradouros do que pessoas com pontuação mais baixa nessa característica. Pessoas com alto nível de neuroticismo são mais vigilantes quanto aos perigos no mundo e veem mais ameaças em estímulos ambíguos, o que pode ser bom ou ruim, dependendo se estão em um ambiente seguro ou inseguro. O neuroticismo é um dos mais importantes preditores de relacionamentos românticos (em média, prevê maior insatisfação e dissolução de relacionamentos). Também prevê - em média - piores resultados de carreira, piores resultados de saúde e uma ampla gama de psicopatologias. É transculturalmente universal (observável em todas as culturas). Não é exclusivo dos humanos: existe em uma ampla variedade de espécies.
Todo mundo cai em algum lugar desse continuum. O modelo Big 5 mede esse traço e o chama de Neuroticismo. O modelo HEXACO mede e chama de Emocionalidade. É uma dimensão crucial da variação humana. Existem outros modelos de personalidade não discutidos neste ensaio, e eles também medem o neuroticismo. A única exceção é o Myers-Briggs: ele o ignora por completo. Se o objetivo é capturar a personalidade humana, essa é uma falha impressionante.
Por que o Myers-Briggs ignoraria uma variável de personalidade que está ligada a resultados de vida que vão desde o sucesso na carreira até problemas de saúde e divórcio? Talvez porque os fabricantes do teste sejam incentivados a tornar os resultados amplamente atraentes. Se você não medir o neuroticismo, nunca terá que dar más notícias aos seus participantes quando o teste for feito, não correndo o risco de perder clientes. Observe que, dos 16 tipos de personalidade sugeridos pelo MBTI, nenhum é negativo. (Você pode dar uma olhada na positividade desenfreada de todos os 16 tipos clicando aqui.) O Myers-Briggs está na posição confortável - e financeiramente judiciosa - de nunca ser o portador de más notícias.
"Mas meus resultados ainda parecem bem precisos"
A maioria das pessoas que ouve falar desses problemas concorda que eles são graves. Um teste que negligencia o neuroticismo, comprime contínuos em categorias, tem baixa confiabilidade e não prevê resultados de vida é uma má combinação. Mas mesmo para algumas pessoas muito brilhantes, um problema persiste: apesar de tudo isso, os resultados do MBTI parecem bastante precisos.
Você também se sente assim? Caso positivo, considere o seguinte.
Primeiro, as pessoas tendem a acreditar que seu horóscopo as descrevem bem, mesmo quando estão lendo o horóscopo errado. Elas parecem querer interpretar a si mesmas nas coisas. Como os horóscopos, o teste de Myers-Briggs parece explorar esse fato, oferecendo às pessoas descrições de personalidade que eliciam o efeito Barnum. O efeito Barnum ocorre quando uma descrição estrategicamente vaga e deficiente em conteúdo é escrita com a quantidade certa de ambiguidade para que as pessoas possam lê-la e concluir que ela as descreve perfeitamente. Ele é nomeado a partir do famoso showman P. T. Barnum, que supostamente teria dito que um otário nasce a cada minuto (essa é, contudo, uma atribuição errônea).
Se o Myers-Briggs parece te descrever bem, é porque ele foi construído para isso. Você quer ler a si mesmo no teste pois ele permanece discretamente silencioso sobre o neuroticismo; e se você já acredita parcialmente nele, o viés de confirmação irá consolidar a sua crença. Em contraste, considere as principais falhas do MBTI: limites arbitrários, baixa confiabilidade, falha em prever os resultados de vida, contornar o neuroticismo, etc.
"Tudo bem - mas é melhor do que nada, né?"
Se essa soar como uma réplica razoável, considere o seguinte.
Em primeiro lugar, como muitos pensadores apontam, a ilusão de conhecimento é mais insidiosa do que a falta de conhecimento - e mais difícil de superar. Ao pintar uma imagem imprecisa e grosseiramente pixelada da personalidade humana, o MBTI é um obstáculo para uma compreensão mais acurada da mesma. Nesse sentido, ele pode ser sim pior do que nada.
Em segundo lugar, se levada a sério, essa desinformação pode ser prejudicial. Ela pode afastar pessoas de carreiras ou companheiros que supostamente não se encaixam com seu tipo de personalidade. Se a base para este conselho for imprecisa, corremos o risco de prejudicar suas vidas.
Terceiro, a escolha não é entre o Myers-Briggs e nada. A escolha é entre o Myers-Briggs e modelos preditivamente bem-sucedidos, como HEXACO e o Big 5. Ambos esses modelos de personalidade humana preveem de forma confiável resultados de vida importantes e evitam o erro fundamental de espremer variáveis contínuas em categorias.
"Mas por que o Myers-Briggs é tão popular, então?"
Não sei por que o Myers-Briggs é tão popular apesar de suas deficiências. Mas os motivos candidatos incluem:
(1) ele tem excelente publicidade e fundos para apoiá-lo;
(2) o teste é fácil de fazer, fácil de administrar e fácil de calcular;
(3) os resultados são fáceis de interpretar e compreender;
(4) o teste evita, com muito tato, dizer ao leitor qualquer coisa negativa; e
(5) algumas evidências sugerem que podemos estar cognitivamente dispostos a pensar em termos de dicotomias e dualismos em vez de contínuos (introvertido vs. extrovertido é mais intuitivo e menos cognitivamente exigente do que um contínuo com um número infinito de pontos), nos levando a preferir o modelo mais cru e impreciso. (Ver aqui e aqui.)
Observações Finais
O que devemos tirar disso?
A psicologia da personalidade é um campo próspero que levou a descobertas importantes sobre como os humanos diferem uns dos outros e como são iguais. Ao contrário de alguns subcampos da psicologia, ele se saiu excepcionalmente bem na crise de replicação. A personalidade pode parecer frágil e intangível, mas pode ser medida com rigor se você tiver as ferramentas certas. E é de grande importância prática: prevê (em média) tudo, desde salários e desempenho na carreira até relacionamentos amorosos/de amizade e conflitos com a lei.
Mas o Myers-Briggs não é a ferramenta correta para o trabalho: ele falha espetacularmente nessas tarefas. Se empresas e governos desejam tomar decisões baseadas em evidências, devem evitar o MBTI e optar por modelos de personalidade humana e propensão à carreira que tenham maior validade e confiabilidade.
Quanto a pessoas comuns como você e eu, não devemos nos iludir com a crença fácil de que o Myers-Briggs pode nos dizer muito sobre nós mesmos, ou que pode nos ajudar a encontrar a carreira ou o companheiro certo. Teremos que confiar em nossas próprias mentes para isso - além das contingências arriscadas de um universo indiferente.
O Myers-Briggs oferece apenas a ilusão de autoconhecimento, não a coisa real. Um olhar mais atento revela que ele é fundamentado em junguianismos empiricamente não-comprovados e práticas psicométricas insalubres.
Original em Areo, 9 de março de 2021.
Tradução: Ágata Cahill
Revisão: Felipe C. Novaes
Algumas adaptações foram feitas para fins de clareza.
Laith Al-Shawaf, Ph.D., é pesquisador e professor assistente de psicologia na Universidade do Colorado. Conduziu pesquisas internacionalmente, estas (com colaboradores) por sua vez apresentada em veículos como a BBC, o Washington Post, The Atlantic, Psychology Today, Slate, o Fórum Econômico Mundial e a Time. Em 2019, a Association for Psychological Science (APS) nomeou-o uma estrela em ascensão.
N. da T.: Fortune 100 é uma lista anual das maiores empresas dos Estados Unidos, formulada pela revista de negócios Fortune.
N. da T.: Originalmente: openness to experience, conscientiousness, extraversion, agreeableness e neuroticism.
N. da T.: Originalmente: honesty-humility, emotionality, extraversion, agreeableness, conscientiousness e openness to experience.