150 anos de Lênin: Os Panos Quentes de Hobsbawm Sobre a Matança
Por Roger Scruton
Hobsbawm1 não descreve as políticas de Lênin em detalhe, mas as resume com Novilíngua2 Marxista. Dessa forma, ele escreve que Lênin agia em nome das 'massas', frente à feroz oposição da 'burguesia':
Ao contrário do que se diz na mitologia da Guerra Fria, que via Lênin essencialmente como um organizador de golpes, o único trunfo que ele e os bolcheviques tinham era a capacidade de reconhecer o que as massas queriam...
Eric Hobsbawm, The Age of Extremes, p. 61.
E ainda:
[S]e um partido revolucionário não tomasse o poder quando o momento e as massas chamavam por isso, como diferiria de um partido não revolucionário?
Idem, p. 63.
Hobsbawn varre para debaixo do tapete a questão de quem seriam essas 'massas', e se realmente clamavam pela violência que o Partido estava prestes a impor sobre elas. Ele cita a própria Novilíngua sinistra de Lênin com aprovação: "Quem — dizia ele, com frequência — poderia imaginar que a vitória do socialismo 'só pode chegar... pela destruição completa da burguesia russa e europeia'?" E, sem qualquer pausa para considerar no que consistiria essa 'destruição completa', Hobsbawm dispensa todas as objeções aos métodos de Lênin como se nunca tivessem sido postos em questão:
Quem poderia dar-se ao luxo de considerar as possíveis consequências a longo prazo, para a revolução, de decisões que tinham de ser tomadas agora, ou então a revolução chegaria ao fim e não haveria nenhuma outra consequência a considerar? Um a um, os passos necessários foram dados...
Idem, p. 64.
O que os bolcheviques fizeram foi atingido através do 'exército da emancipação humana que é impiedoso e disciplinado por necessidade' (p. 72), e, com base nisso, Hobsbawm consegue deixar passar tudo o que Lênin de fato fez em seu caminho em direção à 'destruição completa' da burguesia.
E que forma estranha essa 'emancipação' assumiu! Já que a História marxista não se importa com coisas como a lei e o procedimento judicial, Hobsbawm não vê necessidade em mencionar o decreto de Lênin de 21 de novembro de 1917, que revogou os tribunais, a advocacia e a profissão jurídica, e deixou as pessoas sem a única proteção com que podiam contar contra a intimidação e a prisão arbitrárias.
Afinal, era apenas a burguesia, que estava em qualquer caso destinada à 'destruição completa', que poderia ter acesso a tribunais de justiça. O fato de que Lênin fundou a Tcheka, precursora da KGB, e deu-lhe o poder de usar todos os métodos terroristas necessários para expressar a vontade das 'massas' contra a de meras pessoas, não é mencionado, obviamente. Também não é mencionada a fome de 1921, a primeira de três fomes provocadas da história soviética inicial, usada por Lênin para impor a vontade 'das massas' aos camponeses ucranianos resistentes a serem descritos dessa forma.
Lendo essas páginas de The Age of Extremes, vi-me espantando que o livro não tenha sido condenado como tão escandaloso quanto a negação de David Irving contra o Holocausto. Mas, uma vez mais, fui forçado a reconhecer que os crimes cometidos pela esquerda não são realmente crimes, e, de qualquer modo, aqueles que inventam desculpas para eles, ou fazem vista grossa a eles em silêncio, sempre têm a melhor das intenções.
Trecho de “Fools, Frauds & Firebrands: Thinkers of the New Left” (Bloomsbury Publishing, 2015).
Tradução: Eli Vieira. Com leves adaptações.
N. do T.: Historiador marxista muito respeitado na academia.
N. do T.: Referência à obra 1984, de George Orwell, em que um partido tirânico controla a expressão e o pensamento criando uma nova língua em que os conceitos das palavras interessam aos propósitos do regime.